Blog da Casa de Caridade Luz Divina - dirigente espiritual Vovó Luiza

29 de junho de 2012

A incorporação


Quando falamos sobre Incorporação, muitas vezes nos esquecemos de que existe a manifestação inconsciente, que é aquela que se dá de forma plena, onde audição, visão, controle dos movimentos motores e todo controle são totalmente perdidos. Existe a manifestação consciente, onde, de alguma forma, a pessoa pode estar ali ouvindo, sentindo o movimento do corpo, vendo, ou seja, ainda está ali presente durante a manifestação.
Muitas pessoas podem começar conscientes e com o passar do tempo vão se tornando inconscientes, chegando a um estado onde a entidade possui pleno controle, e isso só é possível através do desenvolvimento e do trabalho da própria mente através das orientações dadas pelos Zeladores, Zeladoras e Entidades da casa à qual se faz parte.
No início de minha caminhada espiritual, na primeira manifestação que tive perdi totalmente o controle dos braços, das pernas, porém, eu via e ouvia tudo ao meu redor. A primeira sensação que tive foi de desespero, me perguntava se eu estava louco, se isso era comum, perguntas e preocupações comuns quando se está iniciando.
Na segunda manifestação que tive o descontrole corpóreo foi pleno, não via, não ouvia e não sentia nada, apenas adormeci.
Durante o meu desenvolvimento, quantas e quantas vezes, tanto na hora de manifestar quanto na hora do guia ir embora, eu rodava o salão inteirinho de forma descontrolada, quantas vezes eu escutei as pessoas conversando com meus guias e eu me perguntava: “será que eu estou ficando doido?”, “será que é coisa da minha cabeça o que eles estão falando?”. Com o passar do tempo aprendi a deixar minha mente livre de pensamentos, não pensando em absolutamente nada, deixando a minha mente vazia, e com o passar dos anos aquela consciência foi se afastando.
Só que este passar do tempo parecia uma eternidade, muitas vezes eu observava algumas diferenças durante a manifestação de meus guias e assim fui observando qual era a energia que se aproximava e ia me acostumando. Cada um tem um tipo de reação, um tipo de sensação. Aqui estou relatando o que eu sentia naquela época.
Com Preto-Velho observei que sentia como se algo estivesse pressionando meu corpo para baixo e uma sensação de dormência nas pernas. Com os Exus percebi uma aceleração no coração e uma sensação nos braços como se alguém estivesse segurando neles, uma sensação de dormência principalmente nos ombros. Com Caboclo observei que eu sentia como se estivesse tonto, uma sensação de falta de ar, uma pressão em minhas costas. 
Então por uma questão de compreender melhor o que eu passava, fui perguntando para alguns filhos da casa, mais velhos que eu, e para o responsável. Cheguei à conclusão que aquela sensação além de ser uma identificação do guia, seria uma espécie de ponto de conexão com a entidade, um local onde eu teria mais sensibilidade em sentir a energia que ali se aproximava. E, além disso, a consciência estava ali presente. Foi quando eu cheguei à conclusão de deixar a mente livre de qualquer pensamento, aprender a lidar com o que eu sentia, até chegar ao ponto em que eles pudessem trabalhar de forma plena. Além dessas sensações, o fato da gente muitas vezes rodopiar, desincorporar e quase demorar para manifestar e ficar rodopiando, isso faz parte do controle da mente de cada um, é um trabalho de cada ser consigo mesmo, claro que auxiliado por seus responsáveis. O que eu quero dizer com isso tudo? É normal!
É muito comum estes questionamentos, essas sensações, algumas pessoas relatam que até mesmo sentem cheiros, ou que escutam vozes; como eu disse, existem diversas e diversas sensações, isso vai de pessoa para pessoa.

Cheguei a um ponto de total confiança que outros guias puderam se aproximar e manifestar. E assim estou cumprindo até hoje a minha missão espiritual com meus guias de Umbanda.
O que eu quero dizer é que esses medos e questionamentos são totalmente comuns. Além de ouvirmos nossos zeladores, devemos aprender a trabalhar a nós mesmos. Como se diz, “todo guia é bom, mas quem dá a condição melhor ou pior de comunicação é o médium”. E é isso mesmo, é um fato, é uma verdade, se nós não aprendermos a trabalhar a nossa mente, não teremos condições de cumprir nossa missão, pois quem está em evolução somos nós.
Com a confiança que vamos adquirindo com o passar dos anos, com o desenvolvimento e com o trabalho da mente, cada vez mais podemos dar condições as nossas entidades. Não sou melhor nem pior que ninguém, mas hoje tenho condições de ficar com meus guias “em terra” por horas, atendendo e auxiliando aqueles que nos procuram. O preparo do nosso corpo através dos banhos de ervas, a liberação da mente de pensamentos, a concentração, todos esses elementos, juntos, fazem com que, cada vez mais, sejamos bons filhos de fé.
Existem pessoas que são conscientes a vida inteira, que ouvem, que até veem o que o guia está fazendo; isso também é completamente natural, normal, pois, existem pessoas que não conseguem deixar a sua mente completamente livre. Porém, é importante lembrar que essa consciência que alguns possuem, não pode jamais interferir no atendimento espiritual e tudo isso está relacionado ao controle da mente.
Tenho orgulho e muito AMOR em poder servir aos Orixás e Entidades e poder auxiliar ao próximo.
E esta palavra que deixei a vocês, hoje, é para dizer que tudo na vida é uma eterna provação, principalmente na vida espiritual, e a primeira delas é lidarmos com nossos erros, é errando que se aprende, é dando condições e não desistindo, que vamos longe.
Cada um de nós possui uma missão. Não desista da sua.
Samir Castro