Blog da Casa de Caridade Luz Divina - dirigente espiritual Vovó Luiza

16 de maio de 2010

Com o espírito incorporado



 
   
  
Sempre digo que o kardecismo é muito mais tolerante que a Umbanda. Na mesa um espírito incorpora, deixa uma linda mensagem de amor ou de advertência para os perigos mundanos sem a necessidade de dizer seu nome. Na umbanda, ele tem que incorporar no ponto de chamada, com a tipicidade da linha (caboclo, preto-velho ou criança), cumprir todas as ordens da hierarquia do terreiro, riscar o seu ponto individual, beber, fumar e dar seu nome, correndo o risco de, se não cumprir tudo, ser chamada a sua atenção.

Claro que tudo será feito com cautela e tempo de treinamento. Para chegar a isso, o médium passa uma dificuldade de saber o que fazer dentro do terreiro. Ele está incorporado com o orixá, sentindo toda sua energia, mas ainda falta muito para dar o passo certo como cavalo bem domado, chegando mesmo em alguns momentos achar que o espírito se afastou, fato explicado pelo impulso mental do médium. Nessa parte quero chamar a atenção de um fato de grande importância. Dificilmente um médium é sonâmbulo (ou inconsciente, como alguns dizem), sendo o mais comum o médium consciente, aquele que sabe o que está acontecendo, mas não tem o controle das palavras e dos gestos.

É o que chamamos de terceira energia. Vejam como funciona: existe uma fusão do espírito do médium com o espírito comunicante, criando-se uma terceira energia. Gosto de dar exemplos. O café e o leite, separados, são puros.
Misturados criam uma terceira bebida, podendo ser mais preto ou mais branco, conforme a quantidade das bebidas. Mas sempre, a união de ambos, terá uma terceira qualidade. É impossível a comunicação pura do espírito. O importante é a presença do espírito, com maior ou menor intensidade. Voltando ao médium perdido no terreiro, o seu impulso inicial é procurar alguém para lhe dar um passe ou tocar em sua testa. Muitos dirigentes não gostam desse procedimento e inibem o espírito de fazer isso, o que é um erro porque, talvez até mais que o próprio dirigente, é o espírito quem quer o desenvolvimento de seu cavalo escolhido.

Recomendo para minha hierarquia deixar que isso aconteça, sem exageros, é claro. Com o decorrer do tempo esse médium ganha um charuto, cachimbo ou cigarro de palha, conforme a entidade, e é quando ele começa a se acalmar, até procurar um lugar para sentar. Daí para riscar o ponto é bem mais rápido. Quero anotar aqui, para conhecimento dos médiuns em desenvolvimento, alguns erros que atrapalham bastante a evolução da mediunidade: não procurar, sob nenhuma hipótese, tentar adivinhar o nome do espírito; não querer riscar o ponto sem antes estar bem assentado com a entidade; não tentar dar avisos e recomendações a ninguém; não ter ciúmes do espírito e não pensar que ele é seu, porque espírito não tem dono.
1) É comum o médium incorporado procurar um amigo seu para lhe dar um passe ou falar com ele, e isso não invalida a incorporação e não quer dizer que foi o médium que procurou e não o espírito, principalmente porque a entidade, sabendo das dificuldades de seu cavalo, tenta de todas as formas facilitar a incorporação. Alguém já me perguntou como o espírito sabe que a pessoa é amiga do médium. Respondi convicto: mais do que o guia, ninguém conhece tanto os amigos de seu protegido.

2) É fundamental ao médium confiar nos dirigentes do terreiro. Incorporem que as pessoas responsáveis estão lhe cuidando. Eu, na primeira vez que fui ao terreiro da Umbanda, senti a incorporação e saí dando passes para o ar e quase caí dentro do Congá. Meu pai-de-santo carinhosamente ajudou-me a levantar e disse: ·você não está na mesa kardecista, e sim em um Terreiro de Umbanda. Com o tempo você aprende·. E eu tinha vinte e cinco anos de experiência, o que me fez responder ao pai-de-santo: ·estou nas suas mãos, vou esquecer momentaneamente tudo que sei do espiritismo.· E foi o que fiz, sem nenhum arrependimento. Fazia, sem questionar, tudo que o pai-de-santo mandava.


Na Umbanda, os médiuns mais comuns são os de incorporação e os de intuição.

Perguntas e respostas sobre Mediunidade:

Pergunta: Para os espíritos trabalharem dentro da casa na lei de Umbanda tem que se manifestar como Caboclo, como criança ou como Preto-Velho? Ogum é índio ou é um soldado romano?

Resposta: A característica de Ogum que vem com uma armadura é porque nós fizemos estes símbolos. A Umbanda é cheia de folclore, e o folclore é aproveitado pelos espíritos. Um Ogum é qualquer filho de Ogum. O simbolismo pode ser o Romano, mas o espírito incorporado é o Índio.

Comentário da Mãe Lucília de Iemanjá: tem horas que a gente tem que saber segurar a vibração.
Comentário do Pai Fernando: Tem que aprender a se curvar diante do ponto cantado. No ponto de Preto-Velho não pode vir um Caboclo. Quando se canta Iemanjá, tem que vir Iemanjá e não Iansã.

Pergunta: Mas pode acontecer de um Preto incorporar num ponto de Caboclo?

Resposta: Pode, mas está errado.

Comentário da Mãe Jô de Oxum: Se alguém em um trabalho precisa de energia de Iemanjá é legal que as pessoas da corrente se concentrem e tragam esta energia para fortalecer este campo de força que está sendo formado. Incorporar espíritos que não estão sendo chamados pode atrapalhar na formação deste campo.
Comentário do Pai André de Xangô: Quando se chama Iemanjá podem vir ondinas , sereias, caboclos e caboclas.
Comentário do Pai Fernando: A Umbanda é muito mais complicada que o Kardecismo, mas é mais fácil, pois não cai na mentira. O espírito tem que vir no ponto certo, riscar o ponto certo, beber a bebida certa. No Kardecismo é fácil a entrada de espíritos obsessores, mas eles são reconhecidos pois nunca falam em nome de Jesus.
Comentário do Pai Fernando: é muito importante a compreensão da existência de uma terceira energia. É como se fosse um café com leite, o médium e o espírito.
Comentário do Pai André de Xangô: uma incorporação é como se tivesse o espírito do médium e o espírito sozinhos dentro de um quarto (o nosso corpo). A melhor incorporação é aquela em que a pessoa consegue fica sentada e quieta em um canto do quarto, enquanto deixa o espírito fazer tudo que precisa. Eu me lembro de uma das primeiras vezes em que o Pai Fernando estava incorporando o Caboclo Akuan, o pai-de-santo Edmundo Ferro chegou perto dele e disse: "Fernando, sinta-se um Caboclo"
Comentário da Mãe Lucília de Iemanjá: Durante a incorporação não se deve ter vergonha, nem incorporar pensando no que o outro está pensando de você.

Pergunta: Como eu sei que um Caboclo é um Caboclo, que um Cigano é um Cigano? 

Resposta Mãe Lucília de Iemanjá: Sob o comando da música.
Os Pretos-Velhos e os Caboclos podem trabalhar juntos, mas cada um vem em seu ponto de chamada.
Pergunta: Na incorporação de Ogum, faz três anos que eu giro, giro, giro e ele vai embora. Por quê?
Resposta: Pode ser que não houve a formação certa da terceira energia.
Comentário do Pai André de Xangô: O sentido do tempo também tem umas considerações. A umbanda não é como um curso que se você fizer direitinho no final do curso você vai receber um diploma. Na Umbanda não existe este tempo, cada um tem um tempo diferente.

Pergunta: Iansã tem necessidade de cumprimentar?

Resposta: Não, ondina não cumprimenta, pois ela é só vibração.
Comentário do Pai André de Xangô: Ondinas são elementares, nunca tiveram um corpo físico.
O Caboclo Sete Pedreiras disse uma vez que todos nós somos protegidos pelos nossos próprios guias e pelos membros espirituais desta casa. Falou também que todo escudo é poderoso, mas é projetado para proteger o que vem de fora, se quiser fragilizá-lo é só atacar pelo lado avesso, que não tem blindagem. O que o caboclo quis dizer com isso é que o que enfraquece a gente são os nossos medos, as nossas angústias, coisas que estão dentro da gente. 

Fonte: Terreiro Pai Maneco